terça-feira, 9 de abril de 2013

Lendas do Rei de Orelhão


Rei Orelhão no Livro de Alexandre Parafita
Naquele tempo, andando um rei a caçar na serra dos Vales e Franco, conhecida hoje serra de Santa Comba, encontrou dois pastorinhos que guardavam o seu rebanho, de nome Comba e Leonardo, seu irmão. 

O rei, querendo zombar da jovem menina, pediu para que deixasse deitar a cabeça no seu colo, a fim  de o catar. A menina obedeceu, pedindo o auxílio de Deus. Levado por uma força sobrenatural, o rei  adormeceu. A menina para se livrar do seu inimigo, desprendeu o laço do avental e foi-se retirando,  ficando o rei com a cabeça apoiada somente no avental. Quando acordou, foi procurar a jovem  menina que ia fugitiva com seu irmão. Quando se encontrou alcançada, pediu o auxílio de Deus, que  a defendesse das mãos de seu algoz. E virou-se para uma fraga que estava no lugar, e pediu-lhe  com todo o seu coração: - Abre, fraga bendita, para entrar Comba catita. 


Ora o rei, quando bateu com a lança na fraga, e não atingiu o alvo que mirava, enfureceu-se e, todo  raivoso, virou-se para Leonardo, dando-lhe uma lançada. Deitou-lhe as tripas de fora, e retirou-se. A  jovem menina, quando se viu livre, levou o seu irmão para junto de uma poça de água que ali havia, e  lavou as chagas. Recolhendo as tripas ficou sarado.

Ainda hoje se encontram as irmãs Jesus dos Santos Jovens, no dito lugar. Santa Comba, numa  capelinha junto à dita fraga, no pino do cabeço. S. Leonardo, em outra capelinha, na tal dita poça,  onde foram lavadas as suas chagas. A estátua do rei de Orelhão, ao lado de S. Leonardo, montado  no seu cavalo, armado com a lança. Aí são venerados os dois santos jovens, Santa Comba e S. Leonardo pela freguesia dos Vales, concelho de Valpaços. 



Recolha (1985) de Adelino Augusto Fidalgo, Pai-Torto – Mirandela

Bibliografia: Cancioneiro Transmontano 2005, Chrys Chrystello 



A Lenda por Alexandre Parafita

O nome de Lamas de Orelhão vem de um rei mouro muito mau que viveu nestas terras há muitos e muitos anos. Dizia-se até que o rei Orelhão tinha uma orelha de gato e outra de cão. Portanto, não era só mau. Era mau e feio. 
    Contam os antigos que nesse tempo vivia também aqui uma pastora muito boa e bonita chamada Comba, que costumava ir para os montes com o rebanho juntamente com o seu irmão Leonardo. Um dia o rei Orelhão viu-a e, como era bonita, tentou seduzi-la. Primeiro esperou que estivesse afastada de seu irmão, depois abeirou-se dela e disse-lhe: 
    — Quero que me venhas catar os piolhos. 
    A menina, ao ver que se tratava do rei mouro, e como era ele quem ali mandava, obedeceu. Sentou-se então numa fraga e o rei encostou a cabeça ao seu colo para que o catasse. Estiveram assim horas e horas, pois o mouro, como estava a gostar do colo de Comba, já não queria sair dali. Até que adormeceu. Ela, ao vê-lo a dormir, desatou muito devagarinho o avental, pousou a cabeça do mouro na fraga e fugiu. 
    Dali a nada o mouro acordou e, ao ver que a moça tinha fugido dele, montou no cavalo e foi em sua perseguição para a castigar. Ela fugiu, fugiu, e, ao sentir o mouro já perto, abeirou-se de uma grande fraga e disse: 
    — Abre-te fraga bendita e salva Comba catita! 
    E o milagre deu-se. A fraga abriu-se e a menina entrou nela, desaparecendo da vista do mouro. Este, numa última tentativa para alcançá-la, lançou contra ela a sua lança, que, ao embater na fraga, deixou lá um golpe tamanho que ainda hoje se pode ver. 
    Entretanto, para tentar ajudar Comba, vinha já na mesma direcção o seu irmão Leonardo. Então o mouro pega, vingou-se nele. Só que o ódio era tanto, que não se limitou a matá-lo. Estripou-o. 
    Mais tarde outros pastores foram achar as tripas do Leonardo atrás de um juncal. E nesse mesmo sítio nasceu uma fonte. A água é milagrosa. A fonte ainda hoje ali está e chama-se “Fonte de S. Leonardo”. E na fraga onde Comba desapareceu o povo construiu depois uma capela, que tem o nome de Santa Comba dos Vales.

Por: Alexandre Parafita
Bibliografia: Biblio PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros Vila Nova de Gaia, Gailivro, 2006 , p.267-268


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